SEM PALAVRAS

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2006-09-07

O ESTRANHO

Não tenho carro. E preciso de emagrecer. E gosto de andar a pé. E gosto de música.

Moro a meia-hora, a pé, do local onde trabalho. Com este calor a distância é maior: cerca de uma hora, com paragens para refrescar à sombra de uma árvore ou de um prédio ou da estação dos comboios. Mas de manhã, pelo fresco, sento-me no banco do jardim. Gosto de ficar a ver a pressa dos outros, as sombras a desaparecerem, o fumo do cigarro e a música nos ouvidos.

Descobri o prazer de meter no bolso as modernas caixinhas de música e nos ouvidos os tampões que dão o som que gosto. Engraçado é reparar nas reacções dos outros. Os mais novos olham com atenção a tentar descobrir o que tenho e o que oiço. Os mais velhos estranham uma pessoa da minha idade com aquelas coisas dos miúdos nos ouvidos. Mas aquelas coisas dão-me asas. Vou, por vezes, ao ritmo da música, estalando os dedos ou abanando a cabeça. Concordo, não é próprio.

Ainda por cima, no trabalho, descobri que a música me ajuda a não ter que ouvir as conversas das minhas colegas. Elas parecem ficar irritadas, mas eu dou graças às novas tecnologias.

Agora, a distância que tenho que percorrer parece mais curta, mas por muito estranho que seja, demoro mais tempo a lá chegar. As asas levam-me por caminhos inesperados.

3 comentários:

Anónimo disse...

és um optimista...a pensares que os mais novos olham para ti a tentarem descobrir o que ouves, quando apenas o fazem a pensar:" será que quando for mais velho terei de usar um aparelho daqueles?"

um conselho: faz como eu, que moro a 15 minutos, a pé, do trabalho, mas vou de carro e só levo 3 ou 4 minutos...com a vantagem de poder levar a música aos berros, a janela meio aberta, e os mais novos olharem para mim e pensarem:" ah...se eu fosse mais velho..."
:)

kimporta disse...

Sou optimista e tenho muitas ilusões; uma é acreditar que tenho prazer em andar a pé, outra é perder essas pequenas "nuances" como as que descreves. É a diferença entre um ingénuo e uma realista ;)

Anónimo disse...

correcção: entre um realista e uma ingénua...