São deprimentes para mim.
Mas lembro-me de gostar de qualquer dia que juntasse a família e alterasse a rotina. Começava pelos cheiros diferentes que vinham da cozinha, da animação geral, da alegria que emanava de todos os gestos, das conversas cruzadas, da amizade que prevalecia ou reforçava os laços familiares, da hora de nos juntarmos à mesa, da hierarquia dos mais velhos, do respeito devido a essa ordem e, por fim, das diferentes comidas que ajudavam a manter a animação. Duravam horas esses encontros à volta da mesa. E eu ouvia as histórias dos mais velhos.
Eram uma festa! Quer fosse Natal, Páscoa, dia de aniversário ou só porque tinha calhado assim.
Em que altura é que essa alegria se começou a transformar em angústia? Não sei. Talvez por todos termos crescido e irmos à nossa vida? Mas se continuávamos a manter o mais possível esses encontros? Não deve ser por aí. Quando, finalmente, nos sentamos todos e até à hora de nos separarmos, não resisto ao entusiasmo que se repete. Já com cunhados e cunhadas, sobrinhos, filhos de sobrinhos - aumentou muito a família e os amigos.
Essa tristeza inicia-se antes da reunião. A angústia atinge o auge na manhã do dia de festa. Mantenho-me alegre e brincalhão enquanto dura o encontro. No regresso a casa as recordações ainda servem de combustível para o bem estar de ter tido uma festa quase como nos velhos tempos. Depois, vai desaparecendo e volta o mal estar. Não atinge os níveis da manhã, mas é um nó no peito que não consigo libertar. Só o tempo o vai desfazendo.
Dia de festa igual a dia de angústia. Com o intervalo que dura o tempo de estarmos todos juntos. Quando é que conseguirei fazer de todas as festas um longo intervalo?