Penso que a maior parte de nós tenta fugir deles. Ninguém dirá que é preconceituoso. E acredita no que diz. O problema reside naqueles que nos foram inculcados desde a infância, que não identificamos como tais, e que continuam a ser perpetuados por nós, pelos órgãos de comunicação social e por pessoas com responsabilidades acrescidas. (O Papa, por exemplo, explicou-se mal? Foi um erro de linguagem? Foi propositado? Ou deixou fugir uma ideia que tinha há muito no subconsciente?).
Mas não te quero falar das grandes figuras. Essas assumirão perante a história e perante os homens os seus preconceitos. O que me assusta somos nós, no dia a dia, a deixarmo-nos levar sem termos conciência disso.
Deixa ver se me explico melhor. Visito um blog e vejo o perfil. Os filmes, livros, música e o que mais lá houver. É impossível não formular uma ideia com base no que leio. Tudo bem. O errado está em classificar, rotular, arrumar em determinada prateleira, a pessoa que prefere os clássicos russos, o Kafka, "Os Miseráveis", o filme "A Leste do Paraíso", o "Há Lodo no Cais", a Virgínia Wolf (filmes e livros?), música Celta, Andina, Boleros e "fado não obrigada".
Deixa-me continuar, depois protestas. O erro não está em quem tem estes gostos. O defeito está em eu não imaginar uma pessoa (não conseguir classificar) com tais preferências. O texto (excelente) sobre os Pearl Jam, levam-me, com base nas ideias pré-concebidas, a catalogar tal pessoa em determinada estante. O desvendar das restantes preferências musicais, vem pertubar essa arrumação. E, se é simples não nos darmos ao trabalho de pensar, esse gosto, heterogéneo, obriga-me a rever os estereótipos em que me estava a lançar.
É evidente que não se conhece ninguém por uma manifestação das suas preferências culturais. Então, porque é que eu, apesar de procurar evitar os preconceitos, já ia lançado no julgamento?
Por preguiça e medo (é aqui que quero chegar!). Estamos habituados a não raciocinar. Em não perturbarmos o nosso sistema de valores. Em encaixarmos as pessoas nos lugares que pensamos serem os delas. Qualquer fuga ao padrão perturba-nos e obriga-nos a rever a nossa classificação. Se não encontramos, no nosso arquivo mental, lugar para uma fácil recolocação, mais perturbados/confusos ficamos.
Isto obriga-nos a pensar, a vencer os preconceitos, a voltar ao zero, a partirmos do nada. E isso inquieta-nos. É mais fácil arrumar uma pessoa debaixo de uma etiqueta e deixá-la lá ficar.
Este é um tipo de preconceitos, há mais, mas estes já me dão que fazer.