SEM PALAVRAS

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2006-09-09

AS MÁQUINAS

Comprei um computador. Não era o Mac que tanto queria, mas o PC que podia. Pensei que serviria muito bem para o que pretendia.

O problema é que acho que a máquina ou "percebeu" que só estava ali por ser barata ou deixou-se afectar pelo calor.

A ligação à internet, que costuma ser uma coisa simples, foi uma tremenda dor de cabeça. Desisti e pedi ao técnico para vir cá instalar. Garanto que ele fez tudo o que eu tinha feito, só que a ligação ficou a funcionar. Nessa altura eu ainda não pensava em coisas estranhas.

Noutra altura, depois de uma mudança de local, por esquecimento, deixei o teclado desligado. Ele, solícito, avisou-me: "Atenção! Não foi detectado o teclado. Carregue na tecla tal e tal e continue." Achei uma maravilha de ironia. Não me irritei. Ri-me, liguei o teclado e tudo bem.

Passados uns dias, estava eu a gravar uns cd's de música, surge a mensagem de que a memória estava baixa e pedia para eu fechar programas. Ainda estava eu a tentar descobrir se estava mais algum programa aberto e ele, zás!, desliga-se. O que mais me transtornou não foi ter-se estragado o cd, foi o tempo perdido, pois estava quase a terminar os 80 minutos de gravação. Foi nessa altura que comecei a pensar que, de alguma maneira, o computador percebera que não era o preferido, que era uma solução de recurso e que não me perdoava esse distanciamento, essa frieza, da minha parte.

Mudei de atitude. Comecei a limpá-lo bem, a não bater com força nas teclas, a mantê-lo num lugar importante da sala, a tapá-lo, a não deixar a gata ir deitar-se no monitor, etc. Só que quanto melhor o tratava mais tirano ele se tornava: desligava-se por tudo e por nada, não reconhecia hardware que sempre tinha aceitado, dizia-me que não havia disco na drive, quando eu tinha acabado de colocar um virgem e brilhante azulado.

Comecei a recear as mensagens. Nunca sabia o que podia vir dali. Eram ambíguas, alarmistas (tipo: ocorreu um erro fatal!"), dava informações erradas e gostava de me envergonhar frente aos amigos. Quando eu dizia "querem ver este programa, que saquei da net?", ele escondia-o numa pasta obscura. Até ficheiros por mim criados ele os guardava sem eu saber onde. Acho que só lhe faltou chamar-me ignorante, de caras.

A última dele. Uma amiga recomendou-me um site Espanhol. Fui ver e tentar ouvir as músicas que lá estavam. Acreditam que ainda não consegui ouvir uma completa? Ele desliga-se perto do fim. Sem avisos, sem comentários, sem tugir nem mugir.

Eu sei que este calor transtorna as pessoas, mas nunca tinha ouvido falar do efeito que provoca nos computadores. Ou querem que eu aceite a outra explicação?


O LIVRO AMARELO

Fui enganado. O dia começou fresco e acabou a ferver. Reclamei junto de S. Pedro. Não me deu grande conversa, via-se que estava habituado a este tipo de situações. Mandou-me aguardar. Fiquei à espera, talvez visse S. Paulo, Santo Agostinho e mais uns poucos com quem gostaria de trocar umas ideias. Quem sabe, talvez viesse Deus. Não, voltou S. Pedro com um livro amarelo na mão. Atirou-mo e disse: "Faz a tua reclamação por escrito!". Fiquei pasmado, para já não falar do tratamento por tu, mas nada a que não estivesse habituado. Escrevi. Fiz a reclamação por escrito. Arranquei a folha que me competia e devolvi-lhe o livro. "Vê-se que estás habituado a reclamar. Até sabias qual era a cópia que era para ti!". Não ia para dizer nada, mas vi um vulto aproximar-se e, na esperança de ser um dos interessantes, resolvi ganhar tempo. Perguntei se ia demorar a ter uma resposta. "Não sabes que há prazos que têm que ser cumpridos?!?! É o normal."

Vi quem estava a chegar e não insisti numa resposta. Era Santo António. S. Pedro disse-lhe que eu era Português e estava a reclamar. E foi-se embora. Para fazer conversa disse-lhe que era Português como ele. "Chiuuuu! Não digas isso em voz alta. Eu sou o Santo António de Pádua."

Mas, argumentei, nasceu em Portugal, viveu em Lisboa muitos anos e agora diz que é Italiano? E o Santo: "Não imaginas como Portugal está mal visto por aqui. Prefiro ser Italiano! Vai, vai andando e cala-te! Se tiveres que voltar aqui, aconselho-te a que não digas que és de Portugal".

Quem é que não dá ouvidos aos Santos? Fui a correr à embaixada de Itália. Quero a nacionalidade Italiana. Fui colonizado durante séculos pelos Romanos, acho que tenho direito.

2006-09-07

O ESTRANHO

Não tenho carro. E preciso de emagrecer. E gosto de andar a pé. E gosto de música.

Moro a meia-hora, a pé, do local onde trabalho. Com este calor a distância é maior: cerca de uma hora, com paragens para refrescar à sombra de uma árvore ou de um prédio ou da estação dos comboios. Mas de manhã, pelo fresco, sento-me no banco do jardim. Gosto de ficar a ver a pressa dos outros, as sombras a desaparecerem, o fumo do cigarro e a música nos ouvidos.

Descobri o prazer de meter no bolso as modernas caixinhas de música e nos ouvidos os tampões que dão o som que gosto. Engraçado é reparar nas reacções dos outros. Os mais novos olham com atenção a tentar descobrir o que tenho e o que oiço. Os mais velhos estranham uma pessoa da minha idade com aquelas coisas dos miúdos nos ouvidos. Mas aquelas coisas dão-me asas. Vou, por vezes, ao ritmo da música, estalando os dedos ou abanando a cabeça. Concordo, não é próprio.

Ainda por cima, no trabalho, descobri que a música me ajuda a não ter que ouvir as conversas das minhas colegas. Elas parecem ficar irritadas, mas eu dou graças às novas tecnologias.

Agora, a distância que tenho que percorrer parece mais curta, mas por muito estranho que seja, demoro mais tempo a lá chegar. As asas levam-me por caminhos inesperados.

2006-09-06

Barretes

Nunca acreditei que conseguia comprar coisas boas por preços mais baixos que o normal. Não, não estou a falar de comprar coisas roubadas! O que eu quero dizer é, por exemplo, ir à Worten, perder várias horas mergulhado em contentores com cd's de música, vasculhar, virar, revirar, por de lado, ir ao fundo e encontrar o cd que procurava há anos. E pagar a 0,90 euros! O que tem acontecido é que em cada cinco que compro, três não são nada do que eu queria.

Hoje comprei quatro: um do Neil Young, outro dos Genesis, Miles Davis e um Espanhol, Mikel Erentxun. Digamos que o resultado não foi mau de todo - 50% foram uma boa aquisição. Miles e Mikel não desapontaram. Os outros foram uma desilusão. Apanhei o Neil Young de uma fase melosa, todo romântico e bom pai de família. Os Genesis... eram os Genesis do Phill Collins. Muito iguais, parecia que estavam sempre a tocar a mesma música. E estes nem eram a 90 cêntimos!

Mas isto leva-me a pensar nos autores de origem Espanhola. Continuamos, nós, os Portugueses, a insistir na ignorância de músicos e escritores do resto da Península Ibérica. E não me digam que eles fazem o mesmo em relação a nós. Mesmo que o façam não justifica comportamento igual. E ficamos a perder porque eles são muitos mais.

Percam um bocado de tempo a procurar e vão acabar por descobrir e gostar de alguns.

2006-09-05

CONTRADIÇÕES

È engraçado que tenha começado a escrever aqui na esperança de ser descoberto e com o à vontade de saber que não seria lido por mais ninguém.

Enganei-me. E a escrita já não consegue ser a mesma. Parece-me que tenho uma pessoa a espreitar por cima do ombro. Emendo palavras, sigo outras ideias, porque sei que há alguém que lê isto.

Defeito meu. Falta de experiência bloguista? Insegurança? Seja o que for não vai durar muito. Hei-de voltar a escrever livre. Questão de tempo e de lógica.

Se quem lê isto tem a sensibilidade para escrever como o fez, eu só posso estar no bom caminho.
Portanto, agora, é só uma questão de tempo. E de passar o calor.

Este calor, acho que já o escrevi, incomoda-me. Deixa-me como esparguete demasiado cozido. Atrofia-me os movimentos e as ideias.

Não foi boa ideia escrever a esta hora. Voltarei pela fresquinha.

2006-09-03

Recuperei o acesso ao blog!

Quando já dava por encerrada esta parte (NAFAIXERRADA) dos meus escritos, sem saber como nem porquê, acedi, novamente, com a maior das facilidades.
Claro que a culpa só pode ter sido minha. O(A?) Google não tem tempo a perder com pessoas assim. Se eu escrevo a dizer-lhes que não consigo entrar no meu blog, eles remetem-me para as FAQ's. Se lhes volto a escrever a dizer que o meu problema não vem nas FAQ's e que tem origem no assumirem uma posição de automatismo perante todas as perguntas, devolvem-me para o pedido de recuperação da password ou do nome do utilizador. Senti-me bola de ping-pong durante uns tempos. Senti-me a carta fora do baralho, a peça redundante, o anacronismo com o qual não se pode perder tempo. Um caso singular não justifica o investimento de uma resposta pessoal. E o pior é que cada vez sinto mais estar a ser assim tratado. Pelo estado, pela entidade patronal, até pelas Testemunhas de Jeová que não aceitaram o meu convite para ficarmos a discutir o assunto que eu, delicadamente, os ouvi explicar. Não voltaram cá!

Bem, tenho o blog de volta e espero que não volte a fugir. Eu quero voltar.