SEM PALAVRAS

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2006-09-15

O TELEMÓVEL

Não vou cometer o disparate, apesar de estar de férias, de dissertar sobre os malefícios dos telemóveis. Primeiro, porque não conheço nenhuns; depois, porque sei como tal aparelho pode ser vital. O telefone portátil, que se leva para qualquer lugar, que nos permite contactar alguém em qualquer lado, é uma invenção útil e não merece discussão.

Do que eu te quero falar é da "aventura" de um amigo para comprar um. Ele queria o mais simples possível, o mais barato e que desse para... telefonar, mais nada. Na primeira loja apresentaram-lhe os últimos modelos, com MP3, máquina fotográfica com 2.0 Mega, 3G banda larga, bluetooth, vídeo chamada, 260.000 cores no ecrã, live TV, rádio FM... e ele a perguntar, mas dá para telefonar? Claro que acabou a simpatia inicial e ele resolveu ir a outra.

Logo que foi atendido, explicou, bem directo, que só queria um telemóvel para telefonar. Que não valia a pena mostrarem-lhe todos os outros. Tinham algum? Que não. Lamentavam muito, estavam à espera, mas não tinham.

Na loja seguinte, a primeira pessoa que o atendeu, desinteressou-se logo que percebeu que não ia vender nenhum dos últimos modelos. Pediu desculpa e chamou um colega, um rapaz novo, entusiasta da tecnologia mais recente. Entendeu o que o meu amigo queria, mas não desistia de lhe fazer ver todas as coisas que ele podia levar num telemóvel daquela geração. Não houve zangas porque o possível comprador, desistiu.

Quando me mostrou, finalmente, o telemóvel que tinha comprado (Posso dizer a marca? Um Sagem VS3!), eu fiquei espantado, aquilo só servia para telefonar! Então e onde é que o compraste? Perguntei-lhe, depois de afirmar que era bonito e que parecia bom. Na internet, respondeu.

Eu bem te digo que na internet se encontra tudo, é só saber procurar. Até há telemóveis que só servem para a função inicial: telefonar!

2006-09-14

CONSUMIDOR

Estou de férias.

Antes que comeces a dizer que sortudo, ou ainda?!, lembra-te que trabalhei todo o verão. Sim, fui eu que fiquei a assegurar o serviço, enquanto o resto do país estava a banhos ou onde lhe apetecia ou podia.

Portanto, estou de férias e deu-me para pensar. A sociedade está dividida em produtores e consumidores. Eu pertenço ao segundo grupo. Gosto de música, mas não sei tocar uma única nota. Gosto de literatura e não consigo passar deste escrevinhar de blog. Gosto de pintura, escultura e arquitectura, mas só sujo as mãos a mudar o tonner da fotocopiadora. E podia continuar com a maior parte das actividades humanas que o resultado seria o mesmo: eu estaria ao lado do produto final. Pronto a admirá-lo e a comprar. Só que o dinheiro não chega e tenho que me contentar com uns cd's e um livro de vez em quando.

Ora, inevitavelmente, isto causa uma certa frustração. Eu devia ter o direito de comprar tudo o que aprecio. Vou mais longe: o estado devia dar-me os meios para eu ser um perfeito consumidor. Ao fim e ao cabo, o meu papel é tão ou mais importante que o dos produtores. O que seria deles se não fossem os compradores?

Não, não defendo esta teoria sem a aplicação de regras justas. Nem todos dão para consumidores perfeitos ou perto disso. O estado deveria submeter-me a um exame criterioso, avaliar o meu espírito crítico, a minha capacidade de análise, o meu poder de síntese e tudo o mais que servisse para julgar as minhas faculdades consumidoras. Se eu ficasse aprovado, então, dar-me-ia os meios para eu me realizar como tal e desempenhar essa importante função nesta sociedade.

Vê-se bem que estou de férias, não é?

FOTOS


A fotografia digital foi a minha salvação. A minha paixão estava a tornar-se muito cara. As revelações eram más e não permitiam rectificações. Estragaram-me rolos porque não se aperceberam que eram 400 ASA ou porque acharam que os amarelos (eu tinha comprado um rolo para os realçar) estavam demasiado vivos.

Assim, embora a qualidade no papel ainda se distinga, pelo menos com o equipamento que uso, no ecrã já fazem a mesma figura. E há a possibilidade de as trabalhar em computador. Por vezes ficam piores, outras não.

O meu prazer começa logo ao pensar tirar a fotografia. O enquadramento, a luz, o zoom, tudo a que tenho direito. E não me contento com uma só. Tiro várias e, nalgumas raras ocasiões, fico com o agradável problema de não saber qual eliminar. O visionamento crítico é outra coisa de que gosto. Escolher as que serão apagadas, as que podem ser trabalhadas, as que serão adulteradas e as que passam a preto e branco. Por fim, passá-las pelo programa do computador para as emendas possíveis. Aqui, podem surgir novas fotos, graças a um novo enquadramento, ao realce ou ausência de cor. Uma infinidade de opções.

Mas há uma coisa que me irrita. É mostrar aquela que me deu mais trabalho, a que eu julgo mais conseguida e ouvir "huum... não está mal". Digam-me que não gostam, que adoram, que está boa ou que está uma merda, mas... a indiferença ou a caridade dão cabo de mim.

Assim, já sabes. Diz o que te apetecer, desde que não digas o que não gosto ;)

2006-09-12

MEMÓRIA

Uma coisa é o que eu recordo, outra o que eu vivi e outra o que eu conto.



Eu nasci a horas mortas,
Cresci nas horas de ponta.
Vivi horas faz-de-conta,
Fiz horas extraordinárias,
Somei só horas de atraso.
Sonhei três horas felizes,
Morrerei às horas certas.
Hora porra p'ros deslizes!

2006-09-11

bogues e BLOGUES

Hoje a frescura chegou a horas. Ia eu a caminho do trabalho e quase sentia o cheiro a chuva. Cheirei a erva cortada de fresco. Sentei-me no jardim, senti o fumo do cigarro e ouvi a Billie Holiday cantar "When your lover has gone". O dia prometia.

Aproveitei para pensar em blogues. Há cerca de três anos senti curiosidade em saber se conseguia ter um. Estava a moda no início, havia pouca oferta, pouca experiência, mas consegui definir, não um, mas dois blogues. Verdade seja dita que depois de saber que tinha conseguido, desinteressei-me. Pouco escrevi em qualquer deles.

Há uns meses atrás, farto de saber que toda a gente tinha o seu blogue, comecei a espreitar os que me apareciam. Ou seja, sem critério de pesquisa. Depressa os classifiquei em "Excepcionais"; "Muito Bons"; "Bons" e 90% merda. Acreditei que faria sentido manter uma espécie de diário, sem preocupações de pertencer aos 90%. Não comunicava a ninguém e, dificilmente, alguém iria lá parar.

Esqueci-me que, actualmente, na internet, quem procura sempre encontra. Ontem, acabei de ver todo o blogue de quem me veio inquietar. Não é excepcional (ainda só encontrei um com esta classificação), mas é MUITO BOM. Porque é que fiquei surpreso? Por ter estranhado que alguém capaz de fazer e escrever o que vi e li, tenha perdido tempo a ler-me. O blogue está graficamente bem conseguido, muito bonito e agradável de ver, mas os textos revelam uma sensibilidade e um gosto fora do comum. Senti-me orgulhoso.
Eu conhecia aquela pessoa. Quem fazia aquilo já tinha estado em minha casa - este blogue. Tenho que rever a minha classificação. Pode não ser excepcional, mas toca-me mais que o dito um.

Levantei-me, a Billie já estava a cantar "All of you", e segui para o emprego.

O dia continua a correr-me bem.