Os crentes têm a vida mais facilitada que os agnósticos. Podem pecar e pedir perdão, confiar nas escolhas divinas, terem um motivo para viverem e fé em que tudo se resolva pelo melhor. Acreditam que há um motivo para a sua existência.
E os agnósticos? A quem deitar a culpa quando as coisas correm mal? A quem vão pedir para que a vida lhes sorria? Que motivos encontram para viverem?
Até há pouco tempo, eu, a essa última pergunta, respondia que acreditava no ser humano. Que tenderia a transformar-se num ser perfeito. Essa era a minha fé. Sim, parece cada vez mais longe esse objectivo. O Homem é o grande caçador do Homem. Todos os dias temos conhecimento das atrocidades que é capaz de cometer. Gostava de acreditar que fosse apenas um passo atrás para se seguirem os dois em frente. Começo a ter dúvidas de alguma vez tal vir a ser atingido.
Que me resta? Acreditar em utopias ou num deus qualquer? Resignar-me à minha condição de animal, por vezes irracional? É pouco para justificar uma vida. É nada para compreender uma existência.
Comecei a pensar que acreditar na perfeição final dos seres humanos era uma questão mal posta. Isso seria impossível. Teria era que pensar no tempo de uma geração. Que poderia eu fazer durante a minha vida? Que forças procurar, pensamentos ou acções que lhe dessem algum significado? O José Saramago deu-me parte da resposta. A que transcrevo é a sua crença, terei que procurar melhor a minha, que até pode parecer-se com esta:
"Creio no direito à solidariedade e no dever de ser solidário. Creio que não há nenhuma incompatibilidade entre a firmeza dos valores próprios e o respeito pelos valores alheios. Somos todos feitos da mesma carne sofrente. Mas também creio que ainda nos falta muito para chegarmos a ser verdadeiramente humanos. Se o seremos alguma vez..."
José Saramago; in "Cadernos de Lanzarote, Diário - III", pág. 83; Ed. Caminho
A secreta vida das imagens
Há 12 anos