SEM PALAVRAS

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2006-08-10

"QUANTO MAIS QUENTE MELHOR", LEMBRAS-TE?

O calor era tanto que eu ouvia e via as rochas a estalarem. O barulho parecia o de um animal moribundo (a matança do porco?), um som agudo e prolongado. A visão era estranha: nunca tinha observado uma rocha, não um calhau, nem uma pedra da calçada, mas um mineral sólido do tamanho de um carro, a dividir-se como se tivesse sido atingido por um raio.

Mas outros fenómenos depressa chamaram a minha atenção: o asfalto das ruas parecia manteiga e os pneus de alguns carros fundiam-se com o alcatrão. As andorinhas voavam em círculos, mais como aves de rapina do que como pássaros que faziam da arte de voar um espectáculo. Os cães, com a língua de fora, corriam sem destino e sem uivar. Um gato juntou-se a eles.

Não se via nenhum ser humano, excepto os que ficavam presos nos carros e que não se atreviam a saír. Um incêndio deflagrou, espontâneamente, no que eram umas flores do jardim. Propagou-se ao resto, primeiro o mundo vegetal, depois a tudo o que podia arder. E, para minha surpresa, eram todas as coisas. Tudo era combustível.

Foi quando acordei e corri à janela. Não vi incêndios, mas não consegui voltar a adormecer. Este calor está a dar comigo em doido.

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