SEM PALAVRAS

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2006-09-14

CONSUMIDOR

Estou de férias.

Antes que comeces a dizer que sortudo, ou ainda?!, lembra-te que trabalhei todo o verão. Sim, fui eu que fiquei a assegurar o serviço, enquanto o resto do país estava a banhos ou onde lhe apetecia ou podia.

Portanto, estou de férias e deu-me para pensar. A sociedade está dividida em produtores e consumidores. Eu pertenço ao segundo grupo. Gosto de música, mas não sei tocar uma única nota. Gosto de literatura e não consigo passar deste escrevinhar de blog. Gosto de pintura, escultura e arquitectura, mas só sujo as mãos a mudar o tonner da fotocopiadora. E podia continuar com a maior parte das actividades humanas que o resultado seria o mesmo: eu estaria ao lado do produto final. Pronto a admirá-lo e a comprar. Só que o dinheiro não chega e tenho que me contentar com uns cd's e um livro de vez em quando.

Ora, inevitavelmente, isto causa uma certa frustração. Eu devia ter o direito de comprar tudo o que aprecio. Vou mais longe: o estado devia dar-me os meios para eu ser um perfeito consumidor. Ao fim e ao cabo, o meu papel é tão ou mais importante que o dos produtores. O que seria deles se não fossem os compradores?

Não, não defendo esta teoria sem a aplicação de regras justas. Nem todos dão para consumidores perfeitos ou perto disso. O estado deveria submeter-me a um exame criterioso, avaliar o meu espírito crítico, a minha capacidade de análise, o meu poder de síntese e tudo o mais que servisse para julgar as minhas faculdades consumidoras. Se eu ficasse aprovado, então, dar-me-ia os meios para eu me realizar como tal e desempenhar essa importante função nesta sociedade.

Vê-se bem que estou de férias, não é?

1 comentário:

Anónimo disse...

nem por isso; não disseste nada disparatado :)

e boas férias!