SEM PALAVRAS

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2006-09-25

Próxima etapa: NATAL

Sim, acabaram-se as férias. Pelo silêncio bem podias imaginar. Mas não vou falar de angústias de Domingo à tarde. Esta é maior. É o não ter prazer ou alegria naquilo que se faz.

Marx falava na alienação do trabalhador (operário). Não conhecia os funcionários públicos, caso contrário não deixaria de apontar que essa ainda é maior. Não são produtivos, no sentido de criarem bens, e não constatam, não podem ter consciência, de que o que produzem é vendido por um valor muito superior ao seu salário. O trabalho que exerço assenta, essencialmente, na desconfiança dos seres humanos. Então, controlam-se as horas de entrada e de saída, as faltas, as horas extraordinárias, os comprovativos de qualquer assunto e outras inutilidades. Se o ser humano fosse honesto por natureza, eu, e muitos outros, estariamos sem trabalho. Bastaria uma décima parte para processar o que realmente é significativo.

Quando falam em aumento de produtividade, na função pública, eu rio-me. No meu caso, eu aumentaria a quantidade de trabalho se os professores e os outros funcionários faltassem mais. Se todos fizessem mais horas extraordinárias, também aumentaria a minha produtividade. Ou seja: quanto mais os outros complicassem, faltassem, frequentassem acções de formação ou seminários, mais trabalho eu teria.

Na maior parte do tempo o meu trabalho é inútil. Não me realizo a controlar os outros. Processar os vencimentos é uma parte ínfima do que faço. A burocracia gerada pela desconfiança, preenche a maior parte do meu período laboral. Portanto, sinto-me desaproveitado. Daí que considere isso pior que a alienação do operário de Marx. Com a estupidez de alguns se considerarem superiores ou melhores por terem um trabalho mais "limpo", de secretária e computador.

Não tenho escapatória nem revolução que me valha. O meu patrão, ainda por cima, é impessoal. É o estado.

A minha esperança é a reforma. Mas parece-me que quando a estou quase a alcançar, a afastam um pouco mais. Assim, não sei quando a atingirei!

2 comentários:

Anónimo disse...

bem visto...acho que nunca tinha pensado na produtividade por esse prisma...
:)

kimporta disse...

Acima de tudo é rabujice por estar farto daquilo. Tenho 36 anos de serviço!