SEM PALAVRAS

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2009-06-08

O CAFÉ

Quanto me sentei à mesa da pastelaria não ia bem disposto só depois do café consigo ficar tratável e ela não o sabia e perguntou-me ao pôr-me a chávena à frente Aquele seu vizinho já anda com outra? Qual meu vizinho? O que mora ao seu lado que vem aqui muitas vezes consigo Pois não sei Como não sabe? Não quer é responder Sim já sei quem é e não não quero responder isso é com ele e com quem tem a ver com o assunto eu não sei nada e não me preocupa Mas se a mulher sabe dá uma bronca desgraçada nele Já pensou que pode ser aluna? Aluna!!!! Nunca os vi com livros... quem estuda sem livros?
Diga-me uma coisa não vou perguntar pelo Camões nem pelo Pessoa mas se lhe pedir para me contar a telenovela da noite o que é que faz? Ah! É fácil conto tudo direitinho para si quer que lhe conte? Não só pretendo saber se me vai contar com caderno e lápis com livros computador ou como é? Não precisa isso basta falar e você ouvir.
É isso mesmo se perguntar pelo Camões ela pode falar tudo o que sabe dele sem papel nenhum só com a linguagem não é? Ah! Não sei se dá estudo é diferente de telenovela Mas a maneira de se contar uma história de dizermos o que sabemos é sempre a mesma ou não? É... é mesmo... não tinha pensado assim.
Então pense que ela pode estar a falar do Bocage e ele ouve sem precisar de mais nada E se estiver errada a resposta sobre esse moço? Como é que ela vai ficar a saber? Voltando para casa e em vez de ver telenovelas ir estudar esse moço para amanhã responder a tudo direitinho.
É mesmo pode ser que dê mas eu acho que ali anda outra história não acha mesmo? Não e traga-me outro café que este ficou frio com a conversa do meu vizinho deixe isso para lá e preocupe-se com a sua vida era muito melhor para todos Sim é mesmo vou já já trazer outro café.

8 comentários:

Only Me disse...

A bela sociedade portuguesa... Isto nunca vai mudar, pois não? Bah, é um pergunta retórica.

Sek disse...

Não digas isso. Se não me deixas acreditar na melhoria do ser humano que me fica para crer?

Only Me disse...

Descobri outro dia uma coisa. Passei mais de metade dos dias em que andava na escola a queixar-me da minha turma. Era a mais barulhenta, era uma das que tinha piores notas e eu queria era concentrar-me para ser boa aluna. Até que o 9º ano acabou e as turmas foram todas misturadas. E eu ai fiquei completamente chocada. Eu queria a minha turma de volta. Eu sentia falta daquele barulho incessante e daquela rudeza própria. Das tropelias. Sim, porque eu era a única que nao bebia. E acabou, tudo isso. E eu, em vez de alívio, fiquei com saudades.
Não se trata de melhorar. É verdade que o povo não muda. Mas será isso realmente mau?

Sek disse...

Only Me, de que falamos quando nos referimos a mudanças? Ter como crença a perfeição do ser humano em todos os aspectos é utópico? Acredito que não. Que podemos e vamos sempre melhorando. Tu és melhor que os teus pais e serás pior que os teus filhos. É evidente a evolução. Dantes era natural o que hoje chamamos crueldade com os animais. A relação entre as pessoas também melhorou. Até tu, ainda nova, te podes aperceber de pequenas diferenças.
Portanto é possível e desejável essa mudança feita individualmente, mas que vai gerando um novo ser humano, uma nova sociedade. Haverá retrocessos, coisas hediondas, mas refiro-me à generalidade das pessoas. São, tendencialmente, capazes de melhorarem.
Agora ao falares da turma e das amizades, entras noutro aspecto. Há coisas que se perdem e eram positivas. A relação que estabeleceste com a tal turma, isso corresponde já a uma memória que ninguém te pode tirar. Mas a nossa vida vai-nos conduzindo para outros locais, outras situações, novos conhecimentos. E estranharás. E desejarás os teus amigos antigos. Até fazeres novos e os somares uns aos outros. A riqueza em número de amigos é das maiores. Mas há coisas que tens consciência de estarem erradas. E procuras mudar ou manter o teu caminho no percurso certo.
Se o povo (todos nós) não fossemos mudando para melhor seria mau. A estagnação é sempre propiciadora de deterioração. Felizmente vamos, individualmente, ficando melhores e isso faz uma sociedade melhor. Apesar das excepções e dos aparentes recuos.
Perdemos coisas boas neste percurso (as reuniões familiares à conversa em vez de olharmos a tv, é um exemplo), mas compete a cada um de nós darmos os passos certos. Como já deste alguns, sem dúvida!

Sek disse...

Desculpa, só ao ver editado é que reparei que me tinha estendido de mais. Parece um tratado....

Only Me disse...

Eu gosto de tratados. Assim posso perceber o seu ponto de vista. Mas quando me referi a mudanças, logo no 1º comentário referia-me a mudanças masi drásticas.
E verdade que o povo portugues se gosta de emter na vida dos outros. Mas sera que o próprio povo não gosta disso? Sei que isto já e extrapolar, mas e assim que nos vamso tornando mais intimos com os outros. Em Lisboa isso nao acontece muito, as pessoas estao sempre demasiado apressadas, demasiado ocupadas. Mas naqueles cafezinhos onde toda a gente se conhece ha um ambiente de cumplicidade, onde todos sabem a vida de todos. E, por estranho que pareça, eu ate gosto disso. Nao da cuscuvilhice, mas do saber que alguem se digna a querer saber de mim. Alguem que eu nao considero amigo, apenas conhecido. Ja aqui nestas bandas, nem sequer conheço todos os vizinhos, que estao sempre a andar apressados de um lado para o outro. Quando se lembram do bom dia, ja e um milagre!

Sek disse...

Sim, percebo onde queres chegar. Mas não é só o povo português. Todos os de climas amenos têm essa tendência. É fácil pensarmos que num local onde so se vê o sol 3 meses por ano e onde a temperatura é sempre de arrepiar, ninguém tenha vontade de sair à rua. Nos climas mais quentes é o contrário. As pessoas juntavam-se a conversar,falavam de varanda para varanda, conviviam. Era positivo. Ajudavam-se porque sabiam tudo da vida uns dos outros. Se aquele estava doente não faltaria quem desse uma ajuda. Se chegasse um estranho logo sabiam ao que ia. Hoje, como dizes, as reuniões são mais no café. Mas o hábito de saber tudo sobre toda a vizinhança manteve-se. Mesmo em Lisboa, ao nível de bairro. Tem vantagens e desvantagens esta curiosidade natural. Já falámos delas. Mas digo-te que me sabe bem entrar no café do bairro e cumprimentar e ser cumprimentado pela maior parte das pessoas. E de se meterem comigo ou provocarem a propósito de qualquer coisa.
Somos pessoas e gostamos de conversar. De saber o que se passa com este e com aquele. Dentro de determinados limites, não é? Todos gostamos de saber que o filho da Dona Antónia conseguiu emprego, mas a quem pode interessar quem anda metido com quem se não aos próprios? Temos de ter bom senso em tudo e saber quais os limites dele.
Foi óptimo estar a conversar contigo. E não precisámos de falar mal de ninguém, pois não?

Only Me disse...

Nunca precisamos de falr mal de ninguém para conversar. Foi um prazer estes momentinhos. Ajudam a desanuviar da confusão apressada da vida.