Bato os nós dos dedos no tampo da mesa. O teu café estremece com o toque. Levantas os olhos e perdes-te lá fora. Sei que queres evitar uma conversa azeda. Mas eu não. Eu pretendo que as coisas ganhem nomes e sejam por nós mencionadas. Assobio a imitar o vento que vês para lá dos vidros. Costuma irritar-te. Passo a fazer de panela de pressão. A expelir o ar com um início forte e a acabar com se o tivesse esvaziado todo. Olham de algumas mesas à nossa volta. Não me importo. Mas tu olhas para os meus lábios, como se esperasses outra provocação. Em tom baixo e calmo perguntas
Porque fazes isso?
É uma maneira de descomprimir e de te levar a falar.
Pronto, já falei.
Mas não do que é importante.
Do que é importante para ti ou para quem?
Dantes nunca farias essa pergunta. Tudo era importante para os dois.
Isso era dantes. Agora as tuas palavras queimam e os teus gestos são gelados.
Porque ainda me importo. Tu é que ficas sempre neutra. Nada te afecta.
Esta conversa afecta-me. Vamos falar de outra coisa.
De quê? Do tempo?
Está mais frio, não notas? Parece que voltou o inverno.
Por isso é que vim com o casacão. Mas para a semana voltaremos a ter bom tempo.
O meu café já está frio.
Vou pedir outro.
Levantei-me, pedi um café para a nossa mesa e saí. Passei pela janela, onde ela ainda estava a olhar para fora, coloquei os auriculares e segui sem música. À hora do almoço voltariamos a encontrar-nos, em casa.
Porque fazes isso?
É uma maneira de descomprimir e de te levar a falar.
Pronto, já falei.
Mas não do que é importante.
Do que é importante para ti ou para quem?
Dantes nunca farias essa pergunta. Tudo era importante para os dois.
Isso era dantes. Agora as tuas palavras queimam e os teus gestos são gelados.
Porque ainda me importo. Tu é que ficas sempre neutra. Nada te afecta.
Esta conversa afecta-me. Vamos falar de outra coisa.
De quê? Do tempo?
Está mais frio, não notas? Parece que voltou o inverno.
Por isso é que vim com o casacão. Mas para a semana voltaremos a ter bom tempo.
O meu café já está frio.
Vou pedir outro.
Levantei-me, pedi um café para a nossa mesa e saí. Passei pela janela, onde ela ainda estava a olhar para fora, coloquei os auriculares e segui sem música. À hora do almoço voltariamos a encontrar-nos, em casa.
4 comentários:
porque tem de ser assim?
porque arrefecem os cafés?
porque há vida sem música?
(se substituires os pontos de interrogação por pontos ou vírgulas nada se altera...)
_________________
bjs
Não sei. Talvez por isso prefira os pontos de interrogação.
Viver já não é fácil, viver a dois ou mais, é multiplicar as dificuldades. Porquê, se se deveria tratar de uma divisão.
bjs.
divisão mas duma multiplicidade de coisas.
fácil, fácil é vivermos connosco próprios e gerirmos os nossos monólogos.
repetir ao deitar e ao levantar :)
Engraçadinha ;)
Imaginas-me um daqueles para quem divisão é eu ler o jornal e a Isabel tratar da casa?
A sério: divisão, como bem percebeste, é partilhar tudo.
...e agora vou repetir, que é hora de deitar. Tenho que me lembrar ao levantar!
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