Vinha de uma das minhas caminhadas. Era mais um dia cinzento apesar do sol e do calor. E eu seguia para o café sem ver. Um caminho que sabia de olhos fechados. Mas notei uma primeira mancha fugaz que mal me chegou ao cérebro. No entanto deve ter deixado algum sinal pois despertei.
Poucos metros à minha frente seguia um vestido alegre, avermelhado e rosa, que teimava em me entrar pelos olhos adentro. Um cabelo loiro ainda mais contribuía para essa chamada de atenção. O andar era leve, quase alegre como o de uma garota. As sandálias ajudavam a fingir um quadro de Renoir, Gauguin ou qualquer outro impressionista. Senti o ar fresco do limão. Seria o seu perfume? Uma aragem vinda de algum quintal? Entrou no café, poucos segundos à minha frente. Ficou a falar com uma das empregadas, eu pedi a minha bica e foi para o canto mais sossegado.
Perdi-me, novamente, até que aquele vestido me puxou de volta. Estava sentada numa mesa à minha frente. Agora virada para mim. Era uma rapariga nova, de vinte e poucos anos. O rosto ia bem com o vestido. Alegre, atrevido, com um cheirinho de provocatório, mas ao mesmo tempo com ar de quem pede protecção, de quem se encontra desamparada. Antes de deixar os meus pensamentos seguirem esse rumo o nosso olhar cruzou-se. Para minha surpresa não baixou os olhos. Manteve-os nos meus até que levei a bica aos lábios e cedi naquele jogo. Mas reparei nos dedos compridos, nos lábios bem desenhados, nos olhos marotos. Quase que sorri. Só não o fiz porque ainda me custava tanto como ir ao dentista. Tinha-me desabituado.
Aproveitei ela estar absorta no café para ver os pés bem desenhados, o pescoço elegante sobre uns ombros altos e redondos. Tive que reconhecer que era bem bonita. Mas pensei numa daquelas bonecas vistosas e sem nada na cabeça. Preconceitos, admiti eu. Tantas anedotas de loiras burras tinham deixado as suas marcas. Perdi-me a pensar nas piadas sobre Judeus, negros, Alentejanos e loiras que de tanto serem repetidas iam deixando sementes que floresciam na primeira oportunidade. Tinha que me limitar ao que via, não ao que me transmitiam as anedotas.
Como que arrependido de tais pensamentos levantei a cabeça para a olhar. Já lá não estava. Procurei em volta e nada. Tinha saído sem dar conta. Aquele ar de Primavera tinha desaparecido. Voltei ao meu dia cinzento.
Poucos metros à minha frente seguia um vestido alegre, avermelhado e rosa, que teimava em me entrar pelos olhos adentro. Um cabelo loiro ainda mais contribuía para essa chamada de atenção. O andar era leve, quase alegre como o de uma garota. As sandálias ajudavam a fingir um quadro de Renoir, Gauguin ou qualquer outro impressionista. Senti o ar fresco do limão. Seria o seu perfume? Uma aragem vinda de algum quintal? Entrou no café, poucos segundos à minha frente. Ficou a falar com uma das empregadas, eu pedi a minha bica e foi para o canto mais sossegado.
Perdi-me, novamente, até que aquele vestido me puxou de volta. Estava sentada numa mesa à minha frente. Agora virada para mim. Era uma rapariga nova, de vinte e poucos anos. O rosto ia bem com o vestido. Alegre, atrevido, com um cheirinho de provocatório, mas ao mesmo tempo com ar de quem pede protecção, de quem se encontra desamparada. Antes de deixar os meus pensamentos seguirem esse rumo o nosso olhar cruzou-se. Para minha surpresa não baixou os olhos. Manteve-os nos meus até que levei a bica aos lábios e cedi naquele jogo. Mas reparei nos dedos compridos, nos lábios bem desenhados, nos olhos marotos. Quase que sorri. Só não o fiz porque ainda me custava tanto como ir ao dentista. Tinha-me desabituado.
Aproveitei ela estar absorta no café para ver os pés bem desenhados, o pescoço elegante sobre uns ombros altos e redondos. Tive que reconhecer que era bem bonita. Mas pensei numa daquelas bonecas vistosas e sem nada na cabeça. Preconceitos, admiti eu. Tantas anedotas de loiras burras tinham deixado as suas marcas. Perdi-me a pensar nas piadas sobre Judeus, negros, Alentejanos e loiras que de tanto serem repetidas iam deixando sementes que floresciam na primeira oportunidade. Tinha que me limitar ao que via, não ao que me transmitiam as anedotas.
Como que arrependido de tais pensamentos levantei a cabeça para a olhar. Já lá não estava. Procurei em volta e nada. Tinha saído sem dar conta. Aquele ar de Primavera tinha desaparecido. Voltei ao meu dia cinzento.
2 comentários:
Sim, por vezes o Sol desaparece num instante sem que o possamos agarrar. E com o Sol vai-se a Primavera...
Adorei o post. Fez-me viver o momento e sentir emoções... Muito bom.
lindo!
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